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Poema de FERNANDO PESSOA (1889 - 1935 )
(sem título )
Não: não digas nada !
Supor o que dirá
A tua boca velada
É ouvi-lo já.
É ouvi-lo melhor
Do que o dirias.
O que és não vem à flor
Das frases e dos dias.
És melhor do que tu.
Não digas nada : sê !
Graça do corpo nu
Que invisível se vê.
Outro poema de MIGUEL TORGA (15 Fevereiro 1981 )
Depoimento
De seguro,
Posso apenas dizer que havia um muro
E que foi contra ele que arremeti
A vida inteira.
Não.Nunca o contornei.
Nunca tentei
Ultrapassá-lo de qualquer maneira.
A honra era lutar
Sem esperança de vencer
E lutei ferozmente noite e dia,
Apesar de saber
Que quanto mais lutava mais perdia
E mais funda sentia
A dor de me perder.
Poema de oito versos de MIGUEL TORGA ( 27 de Maio 1977 )
ALVORADA
Foi tudo simples:aconteceu.
O dia amanhceu,
Acordei.
E reparei no milagre concreto de viver.
E cantei
Como um galo feliz.
O que esse canto diz
É que não sei.
Quarto versos de um poema de MANUEL ALEGRE (contemporâneo e vivo ).
Trovas do mês de Abril
Foram dias foram anos a esperar por um só dia .
Alegrias . Desenganos . Foi o tempo que doía
com seus riscos e seus danos .Foi a noite e foi o dia
na esperança de um só dia .
Quatro versos de um soneto de Camões (158 .)
Mudam-se os tempos,mudam-se as vontades,
muda-se o ser , muda-se a confiança;
todo o mundo é composto de mudança,
tomando sempre novas qualidades.
Dois versos da estrofe 83 do Canto Nono dos Lusíadas,de CAMÕES (1580 ? )
Milhor é exp`rimentá-lo que julgá-lo,
Mas julgue-o quem não pode exp`rimentá-lo.
Dois versos do soneto AMAR ! do livro Charneca em Flor (1930),de FLORBELA ESPANCA
Quem disser que se pode amar alguém
Durante a vida inteira é porque mente !
O último verso de Fernando Pessoa (19 - 11 -1935 )
Dá-me mais vinho, porque a vida é nada .