Sou, com mais uns tantos, responsável por uma organização de agricultores que, como qualquer outra, leva a efeito de quando em vez as respectivas assembleias. As duas últimas, muito recentes, tiveram por ordem de trabalhos respectivamente a apresentação de contas e eleições. Qual delas, pensava eu, a de maior importância. Sem qualquer uma das duas, não é possível, nem legal, ou vice-versa, a existência de qualquer actividade ou organização.
Optimistas, e para que tudo corresse e recebessemos bem os participantes, aguardando um significativo número de associados, rebuscámos todos os cantos da casa reunindo cadeiras, bancos de quatro pernas e mochos de três, tendo mesmo recorrido a uns tantos tabiques assentes em cepos. E, porque não fosse a rapaziada surpreender-nos, pela positiva, ultrapassando as elevadas expectativas, obtivemos, previamente, autorização da câmara para irmos para o cinema. A falta de condições higiénicas, ao tornar-se o ar irrespirável pelo exagerado número de presentes, seria sempre desagradável…
Como costume, à excepção dos corpos gerentes em exercício, ninguém mais apareceu. Diz-se que é bom sinal. É sinal que tudo vai, e está bem.
Aconselharam-nos “Armem um escândalo. Uma falcatrua, e então verão, como não faltará gente nas assembleias para saber, melhor, para coscuvilhar quem foi e o que fizeram”.
Depois de muito pensarmos, e não tendo melhores conselheiros, concluímos que; “Se tem de ser, que seja”. Encetamos então contactos com agências altamente reputadas nacional e internacionalmente, que nos deram referências a quem nos dirigirmos. Foi assim que entabulamos “conversas” com banqueiros, ministros e ex-ministros, governantes que foram, e que já são outra vez, investidores e gestores que sempre foram. Todos escolhidos a dedo, a nata do que entre nós há de melhor. Tudo homens com mão na massa. Espertos. Honestos. Que se entregam de alma e coração ao seu trabalho, que, pela exigência e especificação, só alguns eleitos têm acesso. Porque são dotados.
Expusemos-lhes então o nosso problema – arranjem-nos um escândalo, queremos os nossos associados nas assembleias.
Ficamos estupefactos com o que assistimos. O que para aquela equipa de peritos é o pão nosso de cada dia, transformou-se num grande problema. Eles coçaram na cabeça, deram o seu melhor, contactaram os seus melhores e maiores amigos que gerem os seus mais fidedignos offshores (em português, paraísos de aldrabice), mas nada. Apesar de todo o seu esforço, que ninguém poderá pôr em causa (a quem apontaria de difamador), nenhum deles foi capaz de dar à luz uma ideiazita para nos tirar deste atoleiro.
Asseguram-nos que em toda a sua incomensurável experiência, exclusivamente dedicada, de forma gratuita e desinteressada à aldrabice, nunca, por nunca ser, alguém os tivera confrontado com situação tão complicada. Beliscaram-se e maltrataram-se desiludidos consigo mesmos. Porquê!?
Pelo menos a razão da dificuldade foi por unanimidade, identificada:
“O problema, é que não tendo vocês (nós) dinheiro, e por estupidez não terem contraído um grande empréstimo nem dívidas à banca, nestas condições para nós, é muito difícil resolver a coisa…”Agradecemos, e mandamo-los em paz.
+ União (83): Um acórdão digno de nota
Há 3 dias
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