Recentemente um amigo londinense revelou-me um dado estatístico que dá que pensar: para que todos os habitantes da Terra actual vivessem segundo padroes de consumo dos estado-unideneses seriam necessários cerca de 3 planetas!
É um daqueles dados impressionantes que faz pensar algum tempo. Não muito. Não muito porque é um dado teórico, que não sentimos, não apalpamos, nao vivemos. Não a maioria de nós, no nosso mundo ocidental do norte, chamado o 1º mundo, que mesmo para quem não é rico ainda assim tem o básico. Mas o básico segundo que padrao?!
No nosso mundo rico, do qual nos queixamos constantemente, este tipo de dados é-nos trazido por entre torrentes de informaçao acerca das mil e uma desgraças do mundo, desgraças as quais nem registramos, porque sao muitas, constantes, rotineiras, e sobretudo longínquas. Sim, há sempre noticias de muita gente a morrer despedaçada por guerras, ou decomposta por doenças, ou sugada pela fome. Mas sao noticias, imagens sem cheiro, numeros sem tacto. Quantos de nós tem contacto directo com isso? Não sabemos, porque não sentimos. Não sentimos porque não vemos. Não sentimos porque estamos demasiado longe, tal como muitos outros deixam de sentir porque convivem, demasiado perto.
Segundo o último senso, de 2001, Delhi tem mais de 12 milhoes de Habitantes. E está em crescimento. Tal como se passou em Portugal entre os anos 60 e 90, e tal como na maioria do mundo actual, há imensa gente a imigrar dos campos para as cidades, principalmente para as grandes cidades, principalmente para as capitais. Vêm a fugir da pobreza (ou miséria) do trabalho agricola dos campos e aldeias. Ou da falta de prespecticas e oportunidades de realizaçao individual que esses lugares apresentam, e que o cinema e televisao sao tao habeis em propagandear, fazendo as pessoas sonhar , e o sonho faz as pessoas andarem...
Mas em Portugal essas pessoas alimentam bairros sociais, mais ou menos pobres, mais ou menos guetos. Alguns têm problemas com a droga (os bairros ricos também), as escolas onde vao sao ditas problemáticas, aparecem psicologos pagos pelo Estado para tentar solucionar alguma coisa, etc., mas não costuma haver muita fome. O que há é discriminaçao social devido a poderes de compra e nivéis culturais distintos. É dessa forma que definimos as castas na Europa. E sim, isso é tremendo, e até faz com que gente se prostitua e roube só para poder comprar uma roupa mais na moda, ou um carro mais impressioannate. E todos nos sentimos muito incomodados se não temos pelo menos um quarto só para nós. Queremos muito espaço, muita comida, muitas coisas... Mas vejamos o mundo.
No Brasil essas mesmas pessoas alimentam favelas, o crime organizado, muitos trabalhos muito mal pagos. É pior.
Em Delhi essas pessoas alimentam directamente as ruas da cidade. Habitam as ruas. Os cantinhos todos da maioria das ruas, especialmente as principais. E quando digo as ruas refiro-me aos passeios e estradas! Na melhor das hipoteses a um qualquer mini beco imundo. Há centenas de milhares (centenas de milhares) de pessoas a dormir no passeio em todo lado, a qualquer hora, inconscientes de toda a poluiçao de todos os tipos, que aqui é o normal. Todos os sitios têm gente na rua. Muita dessa gente não tem casa, vive ali mesmo. Come, dorme, compra e vende, trabalha, caga e tem filhos ali mesmo, no passeio, ou até na própria estrada. Alguns dormem tao despojados no cimento poeirento que parecem mesmo mortos. Alguns se calhar estao!
Há sempre muita gente, em todo lado, a fazer de tudo. Qualquer trabalhito que em Portugal é feito por pouquissímas pessoas, ou ate por uma máquina, aqui é feito por muita gente, gente que recebe por isso quase nada. E muita gente nem se percebe o que raios fazem. Creio que muitos não fazem muito mais que deambular! O trabalho, a Vida aqui tem outro valor. MUITO mais baixo. Quase nulo. E só assim se pode compreender que um gajo europeu de classe média e sem muito dinheiro possa vir cá e ter um taxi com motorista-guia à disposiçao 24 horas por dia. Custa menos que ir do aeroporto ao Marquês de Pombal... Esse motorista trabalha 7 dias por semana e se for preciso atravessa o país a passear o turista, seguindo os caprichos deste. Tem de alimentar a mulher e 4 filhos, e sente-se muito feliz porque não é um dos muitos sem casa, aos quais tenho estado a referir-me.
Ao ver isto em directo, in loco, ao tocar, cheirar e sentir, de repente os numeros ganham realidade, peso, emoçao. Só nao é mais porque é tao incrivel que nem dá para entender bem. Só não é mais porque temos capas emocionais protectoras que nos bloqueiam a empatia, para não sufocarmos! Ainda estou na fase em que tudo isto me parece algo surreal, diferente, até interessante, incrivel.
Se um Europeu mal (ou melhor, bem) acostumado como eu tivesse de repente que viver essa realidade por algum tempo, digamos que uns meses, acredito que o que aconteceria seria mais ou menos isto: 40% de possibilidades de morrer de alguma doença rápidamente. 40% de hipoteses de adaptaçao. Afinal o ser humano é incrivel na sua capacidade de adaptaçao e se sobrevivesse aos primeiros meses muito possivelmente até ficaria mais forte. “O que não mata engorda”. Ou ao menos talvez nos quiexassemos menos. Agora, a questao é? Será que isto vale realmente a pena que nos habituemos? 20% de possibilidades de suicídio! Porque ver e vaguear por perto disto não nos permite compreender a sério, nem muito menos suportar aquilo que é viver assim. Se é que isto é viver. Não, não é, isto é sobreviver. No limiar da sobrevivencia.
Agora sim, isto dá que pensar! Porque dá para tocar e sentir.
É um daqueles dados impressionantes que faz pensar algum tempo. Não muito. Não muito porque é um dado teórico, que não sentimos, não apalpamos, nao vivemos. Não a maioria de nós, no nosso mundo ocidental do norte, chamado o 1º mundo, que mesmo para quem não é rico ainda assim tem o básico. Mas o básico segundo que padrao?!
No nosso mundo rico, do qual nos queixamos constantemente, este tipo de dados é-nos trazido por entre torrentes de informaçao acerca das mil e uma desgraças do mundo, desgraças as quais nem registramos, porque sao muitas, constantes, rotineiras, e sobretudo longínquas. Sim, há sempre noticias de muita gente a morrer despedaçada por guerras, ou decomposta por doenças, ou sugada pela fome. Mas sao noticias, imagens sem cheiro, numeros sem tacto. Quantos de nós tem contacto directo com isso? Não sabemos, porque não sentimos. Não sentimos porque não vemos. Não sentimos porque estamos demasiado longe, tal como muitos outros deixam de sentir porque convivem, demasiado perto.
Segundo o último senso, de 2001, Delhi tem mais de 12 milhoes de Habitantes. E está em crescimento. Tal como se passou em Portugal entre os anos 60 e 90, e tal como na maioria do mundo actual, há imensa gente a imigrar dos campos para as cidades, principalmente para as grandes cidades, principalmente para as capitais. Vêm a fugir da pobreza (ou miséria) do trabalho agricola dos campos e aldeias. Ou da falta de prespecticas e oportunidades de realizaçao individual que esses lugares apresentam, e que o cinema e televisao sao tao habeis em propagandear, fazendo as pessoas sonhar , e o sonho faz as pessoas andarem...
Mas em Portugal essas pessoas alimentam bairros sociais, mais ou menos pobres, mais ou menos guetos. Alguns têm problemas com a droga (os bairros ricos também), as escolas onde vao sao ditas problemáticas, aparecem psicologos pagos pelo Estado para tentar solucionar alguma coisa, etc., mas não costuma haver muita fome. O que há é discriminaçao social devido a poderes de compra e nivéis culturais distintos. É dessa forma que definimos as castas na Europa. E sim, isso é tremendo, e até faz com que gente se prostitua e roube só para poder comprar uma roupa mais na moda, ou um carro mais impressioannate. E todos nos sentimos muito incomodados se não temos pelo menos um quarto só para nós. Queremos muito espaço, muita comida, muitas coisas... Mas vejamos o mundo.
No Brasil essas mesmas pessoas alimentam favelas, o crime organizado, muitos trabalhos muito mal pagos. É pior.
Em Delhi essas pessoas alimentam directamente as ruas da cidade. Habitam as ruas. Os cantinhos todos da maioria das ruas, especialmente as principais. E quando digo as ruas refiro-me aos passeios e estradas! Na melhor das hipoteses a um qualquer mini beco imundo. Há centenas de milhares (centenas de milhares) de pessoas a dormir no passeio em todo lado, a qualquer hora, inconscientes de toda a poluiçao de todos os tipos, que aqui é o normal. Todos os sitios têm gente na rua. Muita dessa gente não tem casa, vive ali mesmo. Come, dorme, compra e vende, trabalha, caga e tem filhos ali mesmo, no passeio, ou até na própria estrada. Alguns dormem tao despojados no cimento poeirento que parecem mesmo mortos. Alguns se calhar estao!
Há sempre muita gente, em todo lado, a fazer de tudo. Qualquer trabalhito que em Portugal é feito por pouquissímas pessoas, ou ate por uma máquina, aqui é feito por muita gente, gente que recebe por isso quase nada. E muita gente nem se percebe o que raios fazem. Creio que muitos não fazem muito mais que deambular! O trabalho, a Vida aqui tem outro valor. MUITO mais baixo. Quase nulo. E só assim se pode compreender que um gajo europeu de classe média e sem muito dinheiro possa vir cá e ter um taxi com motorista-guia à disposiçao 24 horas por dia. Custa menos que ir do aeroporto ao Marquês de Pombal... Esse motorista trabalha 7 dias por semana e se for preciso atravessa o país a passear o turista, seguindo os caprichos deste. Tem de alimentar a mulher e 4 filhos, e sente-se muito feliz porque não é um dos muitos sem casa, aos quais tenho estado a referir-me.
Ao ver isto em directo, in loco, ao tocar, cheirar e sentir, de repente os numeros ganham realidade, peso, emoçao. Só nao é mais porque é tao incrivel que nem dá para entender bem. Só não é mais porque temos capas emocionais protectoras que nos bloqueiam a empatia, para não sufocarmos! Ainda estou na fase em que tudo isto me parece algo surreal, diferente, até interessante, incrivel.
Se um Europeu mal (ou melhor, bem) acostumado como eu tivesse de repente que viver essa realidade por algum tempo, digamos que uns meses, acredito que o que aconteceria seria mais ou menos isto: 40% de possibilidades de morrer de alguma doença rápidamente. 40% de hipoteses de adaptaçao. Afinal o ser humano é incrivel na sua capacidade de adaptaçao e se sobrevivesse aos primeiros meses muito possivelmente até ficaria mais forte. “O que não mata engorda”. Ou ao menos talvez nos quiexassemos menos. Agora, a questao é? Será que isto vale realmente a pena que nos habituemos? 20% de possibilidades de suicídio! Porque ver e vaguear por perto disto não nos permite compreender a sério, nem muito menos suportar aquilo que é viver assim. Se é que isto é viver. Não, não é, isto é sobreviver. No limiar da sobrevivencia.
Agora sim, isto dá que pensar! Porque dá para tocar e sentir.
1 comentário:
A fotografia e o relato que fazes são em tudo a confirmação do que já vi montes de vezes em documentários e filmes.Ainda recentemente vi alguns na televisão.Nunca fui á India e uma das coisas que tem motivado a não ida (nem grande vontade de ir)è essa imensa multidão por todo o lado,sujidade,miséria,não obstante serem as pessoas e seu modo de vida o que mais me atrai em qualquer país.Gente a mais cansa...Continua a escrever para aqui e a postar umas fotos. Um Abraço
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