Imfedup 19 ,amávelmente,correspondeu ao convite-desafio por nós lançado a todos os nossos leitores para neste blog fazermos uma colectânea de "o melro na literatura".Enviou-nos este belo soneto de Vasco Graça Moura, pelo que lhe ficamos muito agradecidos.
o melro de visita
o amor não é uma saga cruel:
vejo-a cuidar das plantas no jardim,
brincam as filhas com lápis e papel
e eu escrevo sossegado. é bom assim.
na relva, um melro a saltitar, vilão
pretíssimo, esfuzia à cata de algum resto,
ou da mosca azarada: passa lesto
entre duas roseiras. já é verão.
mas o melro demanda outro quintal
e do poema, sem jeito e sem disfarce,
sai de bico amarelo em diagonal
desajeitada: esvoaça sem maneiras
como um pingo de tinta a escapar-se
de verde prateado, as oliveiras.
Vasco Graça Moura, “O melro de visita”, Sonetos familiares, Lisboa, Quetzal Editores, 1994, p. 20.
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Há 3 dias
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