quarta-feira, 23 de março de 2011

Teatro ---- Lágrimas de crocodilo

Intróito (em voz off)

Acusam-se mutuamente de que vem aí o papão e o culpado és tu,não, és tu.
O papão já está cá a convite dos dois ,mas fingem que não.
O trabalho sujo é assim,suja mesmo.E é antipático.
Atrás e à frente de um trabalho sujo,inevitável,vem sempre mais uma encomenda de mais outro e outro trabalho ainda mais sujo,cada vez mais sujo e mais antipático.Já vai no quarto trabalho sujo,PEC de seu nome.
Estão de acordo em que o trabalho deve ser feito,e um deles até acha que quanto mais sujo melhor,se fôr feito pelo outro, que não por si próprio.

(A cena passa-se em tempo real,num país imaginário,por mero acaso cósmico à beira mar plantado,numa galáxia ainda por descobrir,pelo que qualquer semelhança com algum sítio terráqueo por nós conhecido,não é pura nem impura coincidência).

Personagens
____________Hipocritates

____________Passusatraz

____________Voz da plateia

____________Côro


Cena única
(repete-se de 15 em 15 minutos,pelo que o espectáculo já dura há duas semanas ininterruptamente e prolongar-se-á por não menos de mais alguns meses ou mesmo anos.Os dois personagens falam quase sempre ao mesmo tempo,pelo que nunca se sabe qual deles diz o quê.O que aliás é indiferente,como terão oportunidade de constatar).

Hipocrates e Passusatraz ou vice-versa

-Eu só faço o trabalho se tu também fizeres,meu grande animal.
-Não,eu não,faz tu minha besta,mas olha que eu não concordo,está toda a gente a ouvir-me bem? Olhem,leiam nos meus lábios, eu acho que deve ser feito, mas não concordo,ouviram?
-Mas,e o interesse nacional,seu maricas,sim é do interesse nacional,que o trabalho seja feito,se não vem aí o papão e obriga-nos a fazer o trabalho e nem obrigado nos diz.Não percebes isto coelho manso,que finges de lebre e pensas a passo de caracol.
-Mansa foi a tua avó que te pariu por engano,a pensar que eras o teu pai.Pois que venha o papão que assim sempre tenho uma desculpa e quem fica sujo és tu,mentiroso invertebrado.
-Sujo eu,eu não ,se vier o papão o culpado és tu.Quando falas verdade cai-te um dente,e ainda os tens todos menos o do siso que nunca o tiveste,e ainda por cima todos podres.
-Não não,a culpa será tua e só tua seu cadastrado evadido,que compraste a quarta classe de adultos e tens a mania que inventaste a escrita.O inferno é bom demais para ti,reles sacripanta.
-Eh pá, estás muito enganado se pensas que eu é que vou pagar pelos teus PECados.
-PECador és tu pá ou pensas que enganas alguém,pá,judas escariote,binladen disfarçado
de freira.O poder não é para frouxos como tu.
-Ai ele é isso pá,então vamos ao tira teimas pá.Ai sim,se queres assim vamos ao tira teimas pá.

Voz da plateia -
-e o dito interesse nacional como é que fica oh pás ? olhem que enquanto vossemecês tiram e não tiram as teimas vai a gente à bancarrota e vem aí FêMêI,o papão,acabar o trabalho que vossemecês deixaram incompleto.

Hipocritates e Passusatraz

-Pois que venha o FêMêI,que o interesse nacional vá pró raio que o parta,aliás já está todo partido,que nós vamos pra eleições .

Côro

-Pois que venha ,pois que venha,pois que venha,que nós vamos pra eleiçôes.
Que nós vamos pra eleiiiçççõõõiiissss.

- fim (provisório) -

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